Emancipação

Sim, os tempos mudaram, para mim principalmente. Não consigo ter mais as mesmas perspectivas que tinha. O que anos atrás eu mais ansiava, hoje tenho até asco. o que eu mais sentia falta, hoje sobra. os excessos que me exilavam foram substituídos por equilíbrio, como uma emancipação do ser que descobri me orgulhar em ser.

Eu sempre fui teimosa e bati de frente, mas hoje realmente entendi uma causa para defender e um motivo para insistir: a minha causa, os meus interesses. Engraçado que sempre colocava outras pessoas a frente e por mais bonito que o altruísmo pareça ele tem um ponto cego, uma armadilha, e nesse pontinho ele deixa de fazer bem e de fazer sentido. Eu vivia nesse pontinho.

Quantas vezes abdiquei de mim mesma pelos outros? Muitas vezes abaixei a cabeça por entender que minhas vontades eram inferiores. Várias vezes eu engoli seco o desgosto por gostar de alguém - e isso faz sentido? E a arrogância que deixei passar batido por um respeito a hierarquia? E quantas vezes me diminuí alegando amor - e era amor! Mas um amor burro, completamente destrutivo. A minha teimosia não tinha objetivo, e minhas buscas eram errantes. eu me entregava com total facilidade e de modo irracional. Hoje não dá mais! Nem que eu me esforce, não dá mais pra fazer esse papel de trouxa, andar "na linha" que eles delimitaram, ficar no quadradinho das boas, supostas e tão previsíveis relações. Parei de me negar para os outros ficarem bem, pois esse ciclo é muito idiota e asfixiante, apenas.

Muitos se assustam com meus novos argumentos e discursos. Meu empoderamento bate de frente com uma sociedade que dificilmente engole uma pessoa que reconhece seus direitos, isso incomoda. Nas mais singelas reações alheias os julgamentos se apresentam, das mais variadas formas. Mas até quando a opinião alheia vai me sufocar, ditar minha reputação, definir minhas escolhas? Longe de mim invadir a liberdade dos outros e de ferir alguém. A minha intenção nunca foi ou será essa, mas a questão é que muitos se sentem invadidos e feridos independente das minhas intenções. Aceitar a liberdade de cada um incomoda um pouco mesmo. Saber que não temos direito sobre o eu dos outros bagunça muito a nossa cabeça, mexe com os alicerces errados que construímos durante anos. Crescemos engolindo concepções falhas, e ao tentar concertar esses alicerces, abala a construção inteira.

Eu me refiz. e é inevitável, os julgamentos virão. Um "nossa, como você está diferente!" pode conter uma crítica cruel disfarçada. E eu não nego, esse é o meu maior desafio para conseguir ficar bem. Porque para meu prejuízo, me preocupo muito com a opinião dos outros. e isso tem sido um exercício diário: negar o olhar torto, engolir seco os julgamentos infundados, me proteger de todas as acusações de rebeldia e imaturidade que recebo, tapar os ouvidos para quem não entendeu ainda a moral de tudo e não tem que meter o bedelho onde não foram chamados.

A vida é minha - e desculpa a arrogância que você entende ao ler essa frase. Mas qual a arrogância dela se não a arrogância nas suas interpretações equivocadas? Assim como a vida é minha, a sua é sua de igual forma e intensidade. E disso só podemos tirar uma lição: lutar pelo próprio direito é também lutar pelos direitos dos outros. Eu não quero que alguém me obrigue a seguir o que eu não me identifico, e o mesmo é válido para os outros. querer respeito quanto às próprias escolhas e crença, a valorização dos próprios direitos é uma via de mão dupla. É aceitar que escolhas diferentes das minhas tem os mesmos privilégios que eu quero para as minhas.

Se defendo a minha liberdade de expressão, porque expressões diferentes das minhas não teriam a mesma liberdade? Não é porque uma religião, por exemplo, é mais "legal" que outra que ambas não devem ter os mesmos direitos de seguir com seus rituais e credos. Não julgo seus seguidores e que tenham liberdade de culto e crença - apesar de ser contrária a várias ideias e ideais. Então, por que defendo assim? Porque eu quero a mesma liberdade de crença pra mim.

E o mesmo princípio é válido pra qualquer outro assunto - isso mesmo, QUALQUER ASSUNTO, QUALQUER OUTRA COISA!


Assinado: Jéssica Flávia Oliveira.
/Fotos Betes-de-Mode de Helmo (Thomas Couderc and Clément Vauchez)

  

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