Consciência

Não vou gritar felicidade. Não vou gastar minha voz em presunções tão fortes que pouco entendo.

Não vou anunciar minha plenitude. Me satisfaço, mas estou longe de concluir, de terminar minhas buscas, encerrar anseios. Eu sigo querendo, longe de me satisfazer de tudo. Fora que eu ainda falho, e às vezes repito erros.

Não vou esbravejar liberdade. Nasci cercada de portões e fronteiras, de muros e algemas, que ainda brigo para me livrar. Ainda contesto limitações, enfrento armadilhas e prisões.

Não vou fingir constância. Em tempos que mudam, eu arrisco passar diferente, mudar junto. Eu ouso querer e deixar de querer - me fazer nas mutações sadias, fundamentadas nos tempos que se alteram.

Não tenho essa coragem que outros têm, de falar tanto sobre o que não sabem, de posar para os outros sentimentos que faltam, contentamentos que não contentam. Não tenho essa urgência que outros têm, de entregar tantas convicções sobre tudo, eu não tenho tanta certeza assim de tudo.

Não vou mentir sobre minhas fragilidades. Não vou negar a realidade. Recuso a incoerência e a superficialidade desse costume tolo, de fingir que sou o que não sou, que sei sobre o que não apreendi. Estou bem. Consciente. Sem necessidade de provar, de propagar minha vida para alguém, nem ostentar sobre mim.

Não se deve incomodar gratuitamente os ouvidos alheios, menos ainda para auto-afirmações. Se for para gritar, que seja efeito do espírito que derramou, do que é intenso demais para segurar, ou lançar voz sobre o que incomoda. Pois ser e ter não precisa de provas ou anunciações. No silêncio do que somos estão as maiores verdades sobre nós. Que o grito venha desse silenciar sagrado, do ser mais puro e real que guardamos.


Assinado: Jéssica Flávia Oliveira.
/Fotos de Autores Desconhecidos

     

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