Sou onde estou

Busquei no guarda-roupa e não encontrei uma peça de roupa que quisesse vestir. Olhei todos aqueles esterótipos nos cabides, eles que por anos me vestiram, e nenhum mais eu quis. Decidi ficar nua de todos eles, e me disseram pra eu ficar em casa, que assim eu não podia sair. Eu saí mesmo assim. Saí vestida de mim mesma, e ouvi gritos dizendo que não precisava voltar, a porta estaria fechada pra meu retorno. Não aceitaram como sou, meu corpo, minhas formas e transparências, a pele na cara, no sol. A clareza do meu ser nomearam de impureza. Mas de tão leve me senti pura e liberta sem nada pra me esconder. Aberta aos olhares e às críticas. Agradecendo os que se afastavam. E os milhares de eus em novos outros que descobri. Fora de casa tive frio, mas não mais do que o frio que eu sentia lá dentro. Fora de casa eu senti medo, mas não mais do que o tanto que me aterrorizavam dentro. Fora de casa me senti perdida, mas pelo menos não me achava desfigurada como me via lá dentro. Fora daquela casa eu descobri meu verdadeiro lar. Passei a morar em mim. Me vestindo das minhas paredes, tenho meus cômodos, meus quadros, minha decoração. Fiz minhas ordens, meu telhado, minhas janelas, minhas portas, meu portão. Abertos quando decidir, pra entrar e sair, com a intensidade de quem quer viver, e decidir. Hoje respiro. Hoje sou onde estou.

Assinado: Jéssica Flávia Oliveira.
/Foto de Autor Desconhecido



2 comments:

  1. Jhê, leia com o coração.

    Sei eu que dói, e o quanto dói ver uma casa que antes era cheia, vazia. Faz falta os passos que andava pelos corredores, o cheiro que ficava nos quartos, as mãos que abriam as janelas em dias escuros, os abraços que aqueciam quando a chuva começava a cair, ou aquecia o coração que insiste em sentir frio mesmo estando 40º lá fora.

    Pra amenizar a dor a gente tem mania de culpar os vizinhos, o carteiro que atrasava a correspondência, o jardineiro que não cortava a grama como devia, ou o sprint que inventou de entupir e deixou o jardim secar. Ai dá aquela vontade de demitir todo mundo. Mas essa raiva nada mais é do que a gente querendo dividir a dor de olhar do alto da escada e ver a casa vazia. É estranho, mas a gente é humano, é assim!

    Assumir que o hóspede simplesmente não quis ficar, não pela casa que é linda (é sim, pode acreditar), não pelos horários ou pelas festas que a casa se recusava a dar e não pelas regras que a casa se submetia ao condomínio no qual estava, mas porque simplesmente não quis. Era uma casa aconchegante e linda, mas ele preferiu ir é difícil. Motivos? Sabe se lá, as vezes só vontade.

    Mas a raiva é tanta, por lembrar dos dias em que a casa ficava de janelas abertas e cortinas floridas, que a gente esquece de ver que o jardineiro plantou rosas mais vermelhas pra gente sorrir, que os vizinhos não escutam mais música alta para vc não chorar, que os sprints espalham água por todos os lados pra ver se seus olhos conseguem ver a beleza de novo. Mas a gente tende a se trancar e só tentar superar.

    Talvez, não seja superar, seja entender. A casa não fica menos bonita vazia, não perde seu valor ou charme. Que talvez esse hóspede tenha ido embora para que outro hospede chegue. Alguém que vai cuidar da grama, gostar do jardineiro e tratar bem os vizinho. Pq só merece usufruir da casa alguém que entenda e respeites suas regra. Não é a casa que tem que mudar, é o hóspede que precisa saber se quer uma casa daquele jeito ou não, porque a casa é linda.

    Com carinho, o carteiro. =)

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    1. Cada leitor é escritor do que leu. Pois o que é interpretado nada mais é do que um reflexo de si mesmo. Li suas palavras com o coração, mas confesso que no meu coração elas não encontraram abrigo, talvez porque os sentimentos que estão no meu coração não se viram espelhados nessas suas frases. Raiva é um sentimento que quase não sinto ou guardo. E acho que você também não deveria se voltar para isso! Mas é uma delícia saber que independente de qualquer coisa, a escrita te aceita de braços abertos, seja com ira ou com o que for. Continue escrevendo e elaborando suas análises pessoais, isso é muito importante para o conhecimento de nós mesmos.

      Aproveito para anunciar: O que escrevo não sou eu, mas é você! Você lê o que vê/sente/pensa.. Quando eu escrevo, o faço mais pelo prazer e nem sempre me dou ao luxo nem de eu mesma interpretar o que escrevi.

      Muita positividade pra você! Senti seu texto envolto de sentimentos pesados... Que você alcance leveza o quanto antes!

      Beijos de luz!
      Atenciosamente, Você!

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