Gratidão

(diálogo solto)

- Me lembre de escrever alegrias. Ou melhor! Me lembre de vivê-las.
- Eu não gosto de escrever alegrias, tenho a sensação de que as escrevo quando são saudade, quando já se passaram. Ou a sensação de que preciso pausá-las para poder transferi-las pro papel. Gosto mesmo é de escrever tristezas. Digo a tristeza: “Me dê um tempo! Espera um pouco, vou te tirar um tanto de mim...” E então, escrevo-as.
- É que só escrevo lamúrias, linhas e mais linhas de melancolia. Quando me leio, parece que não sobrevivi pra ter uma sequer alegria.
- Não sejas tolo! Escrever é uma alegria.
- Pois me lembre sempre disso.
- O que se aprende não se é esquecido para ser então recordado. Costuma ficar costurado nas ideias, no corpo, nos sentidos... Isto me refiro ao que se aprende da vida. Se escrever não te faz bem, por quê da escrita?
- Suas falas me entristecem. Suas ideias me incomodam.
- Você se entristece muito fácil. E veja o incômodo de outras ideias como um bem, pois promove questionamentos.
- Vou escrever sobre isso.
- Não seria melhor você ir viver?
- Viver o quê?
- Não sei. Viver.
- Quando se escreve não se vive?
- Depende do que você está escrevendo.
- Escrevo dores que senti. Cada uma vivi.
- E o que você aprendeu com elas?
- (silêncio)
- Enxuga a dor com tua escrita. Depois levanta. Respira fundo, orgulhe-se de sentir, da sinceridade que feriu o papel. Sinta o prazer de expressar, ainda que dor, perda, medo, culpa... Seja o mal que for! Mas volte. Volte pra vida. Saia da posição de escritor-observador. Passe pela dor deixando-a.
- E as alegrias? Que tenho a dizer sobre elas? Onde foram parar as minhas? A lágrima parece durar até mais que o riso!
- Não sei onde foram parar tuas alegrias, se é que elas param em algum lugar. Não sei o que tens a dizer sobre elas. Mas sobre alegrias, não basta o teu riso pra dizê-las? Digo um riso sincero. Que ecoa lá de dentro... Ei! Escreve tuas alegrias vivendo! O papel cuida da tua dor, fora de você. Mantêm a alegria dentro. Os papéis, onde suas tristezas foram descritas, saberão entender...
- É... - afirmou sereno, depois respirou fundo e agradeceu. - Obrigado por mais essa conversa, Papel!


Assinado: Jéssica Flávia Oliveira.
/Foto de Autor Desconhecido


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