Permiti

Indaguei a dor, o medo, a culpa, dos motivos de eles me atingirem com tamanha intensidade. E a resposta foi unânime: “Porque você permite.” Além do desconforto dessa constatação, ela me fez entender que nada me abalaria com tamanha força se de fato eu não me importasse.

O que tem valor? O que é importante? O que aprecio, admiro, o que amo? A resposta dessas perguntas revelam todas as possibilidade de me machucar, indicam onde há vulnerabilidade em mim.

Eu sei porque dor, sei porque medo, porque culpa. Porque amo. Porque me importo. E é irônico pensar que toda essa exposição fragilizada é proveniente de escolhas, como se eu tivesse escolhido me fazer mal. Onde me permito sentir, dor. Onde me permito amar, medo. Onde me importo, culpa. Acabo sendo a maior responsável pelo que eventualmente me pode despedaçar.

Se não me importasse, se não tivesse valor pra mim, simplesmente não me atingiria, não me abalaria, eu simplesmente ignoraria. Mas é como se eu tivesse dado o controle para outro. Faltando lá, me diminui aqui. O abandono de lá, me amedronta aqui. Cada ação lá, reação daqui.

Sou minha dor, sou meu medo, sou minha culpa. Sou amor e importâncias em demasia, que me desequilibram, desorientam, afundam.

E quando o que admiramos, amamos, apreciamos, nos desaponta, nos decepciona, o resultado disso com orgulho é: um massacre de crueldades, amarguras, rancor, destruição. O orgulhoso quer a rebeldia e o grito do “Você não tinha o direito. Você merece troco, desprezo.” Com orgulho, as feridas e sentimentos negativos, nos fecham, nos endurecem, mais rudes nos tornamos.

Mas não! Orgulho não me descreve... Me esquivei pra outro extremo. Somei minhas permissões e vulnerabilidades com cego altruísmo. O que significa que diante descontentamentos, a dor é duplamente minha, quero tomar a dor do outro, como se eu devesse e merecesse sofrer sozinha. O que significa que não tenho medo, me faço medo. E a culpa? Eu acabo patenteando - digo ao mundo: "Não se preocupe, fique bem, eu aguento, sozinha, pois (sinto que) mereço, é minha essa culpa." Renuncio meus direitos. Transfiro toda razão pra outros e acabo aceitando todas as pedras que lançam. Com sufocante altruísmo, corrompo minha sensatez e por vezes repito: Cada centímetro dessa dor, construí. Cada litro desse medo, eu tomo. Cada grama dessa culpa, eu compro.

No fim, o meu fim eu que determinei. Se eu sumir em meio a cada sentimento ruim, será porque eu mesma me apaguei. Ou entreguei a borracha pra alguém e disse: “Faça como quiser. (estupidamente, sinto que) Mereço todo esse mal.” Afinal, não foi eu que o permiti?


Assinado: Jéssica Flávia Oliveira.
/Foto de Autor Desconhecido.


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