Círculos completos

Você edificou um altar de razões, declarou suas escolhas sob ele, negou qualquer sentimento que quisesse se aproximar. Conteve qualquer reação de sensibilidade, a fim de manter suas decisões e solidificar suas justificativas para o que estava fazendo. Você me lembra das que coisas que me pediu para ignorar.

Você se aproxima como se eu tivesse te deixado. Jogando areia em cada chama que eu alimentei na tentativa de te manter aquecido comigo. Como se eu não tivesse pedido para não desistir. Você me olha como se eu tivesse te traído, e sujado qualquer possibilidade de ser nós outra vez. Quando na verdade eu estava sozinha, há duas quadras de onde você me deixou, quando a realidade não me mostrava alternativas, quando a única novidade que tinha eram as fechaduras trocadas da sua porta. A única linha que nos ligava era a que você quis ofuscar - um sentimento que antes era declarado aos quatro ventos, se limitava a silêncio e frases em conversas pela metade.

Você me acusa ter abandonado o posto que você tirou, me questiona o que eu fiz e quais foram meus motivos. Bagunçando as divisões que coloquei, para separar o sentimento da razão.

Você invadiu meu discernimento desenhando círculos nas paredes, colocando entulhos em todos os caminhos que haviam, evitando qualquer transição. Você quis ser livre sem mim, e me questiona porque eu fiz o que você queria. Você cortou minhas asas e me empurrou de um penhasco, me jogou em uma cilada e eu caí. E minha sentença é: culpada. Culpada de não ter persistido, de não ter esperado sua volta, culpada por ter perdido o compromisso que você renunciou. E eu não tenho forças para me defender, pois sinto toda essa culpa amargar minhas reações. Como se os sentimentos antes ignorados agora me culpassem por ter aceitado essa ignorância. Como se eu tivesse que ter negado aquele dia que você disse fim. Mas é que eu estava cansada de tentar te manter. Você quis partir antes, e outras vezes, eu que usei de artifícios para chamar sua atenção e adiar sua saída. Até não conseguir mais. Desisti. E minha desistência trouxe minha condenação.

Fui sua consequência. E por mais inconsequente que eu tenha sido, isso foi depois de nós. Neguei todo sentimento como você me pediu. Só não esperei você mudar de ideia. E eu deveria ter esperado?

Afinal de contas, o que você quer? Não tire mais do que você já me tirou. Não coloque sobre meus ombros o peso das suas escolhas, já basta o peso das minhas. Não diga que eu te perdi quando na verdade já estávamos perdidos. E se você quisesse mesmo voltar, era só voltar. Se você quisesse mesmo ficar, era só ter ficado. Se quisesse era só ter dito que queria em uma das vezes que eu cedi às tentativas não ensaiadas. Se me quisesse, você me teria. Você ainda me detém.

Assinado: Jéssica Flávia Oliveira.
/Foto de Jess Richmond



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