Excessos

Íntima das proximidades. Desconheço longas distâncias. Encontros em que fico à mostra. Abraços em que o outro me visita. E quantas visitas desinteressadas eu recebo! Quanta gente estranha deixo entrar. A falta de tato pra separar o formal das informalidades, os que estão a passeio dos que buscam abrigo. Mergulho no raso dos outros e me afogo.

Não é que eu espere tudo de todos, nem que eu seja do mundo, nem que eu esteja a disposição pra quem quiser me tomar um pouco. Apenas sei que em cada parcela dou mais do que o que eu deveria. Se minha conta é uma vez eu, dou duas vezes de mim... Eu devia dar ouvidos aos alertas que recebo do inconsciente, que na espreita chama minha atenção pra me resguardar. Eu devia tantas coisas! E as devo a mim mesma. Devo a mim todas as entregas em que me perdi. E quando realmente precisei me doar eu estava em falta.

Amante dos contatos, viciada no sentir, acabo morrendo com tantas emoções desorientadas. A intensidade que busco é a mesma que nas tocaias ri da minha cara. Cassoa do quanto me expus. Ri do quanto eu quis. E do que eu fiz. E pode rir, ria até não se aguentar mais. Eu vou continuar sendo assim. Na tolice de querer viver demais, sei que viverei até mais do que o que eu merecia, tomarei sem notar venenos que eram pra outros, cairei em armadilhas, vou me machucar, serei remetente do que não destinaram a mim. E quando descobrirem, tomarão de volta. Vou devolver. Cheia de marcas. Me recolher. Me abster. Sarar. E novamente reabrir.

Essa condição me maltrata, me assola, cansa. É tanta intensidade que me deixa exausta! Pensamentos a mil, emoções a milhão, e todos lavados de sinceras e bonitas vontades... É a mesma condição que me encoraja e me liberta. Alimenta o descaso pelos julgamentos e padrões, assim me dá escolhas e me cria, me deixando livre da tutoria de filosofias engessadas.

Esse exagero sincero sou eu. Esse exagero que me matou, demorou, mas eu ressuscitei. Ele que me coloca no alvo de todas as boas e más intenções alheias, é também quem me acolheu. Talvez seja por isso que eu jamais queira abandoná-lo. O exagero de mim mesma me faz ser quem ninguém pode ser. Ele faz eu chegar no ser antes que alguém me proíba. E em cada limitação, ele me salva, dando voz aos meus direitos.

Assinado: Jéssica Flávia Oliveira.
/Fotos de Autores Desconhecidos


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