Convite a loucura

Quer um convite indecente? Insensato? Um convite sem escrúpulos algum? Bem, eu tenho um! Na verdade eu tenho vários convites loucos pra te fazer. A começar por esse.

Enlouquece comigo! Vamos decidir pelo mais insensato, o mais frágil: vamos ficar juntos? Eu não sei o que me aconteceu. Sei apenas dessa vontade louca de estar com você.

Quero seu carinho inesperado numa caminhada sem compromisso, sem planos do que fazer quando a caminhada acabar. Quero a aproximação deliciosa do seu corpo ao meu, dispersos num sofá. Quero seu bom dia bobo querendo a noite anterior de novo, e seu boa noite lerdo, querendo amanhecer comigo.

Eu não preciso das suas promessas, não quero você certo de tudo, não quero sua completude e nem que você me complete. Não quero servir para preencher suas lacunas e nem que você tente me resolver. Quero você com suas faltas e duvidas, você como é. Traga sua vontade de descobrir e conhecer. Vamos unir nossos questionamentos e compartilhar nossas resoluções. Só quero estar com você, te fazer companhia num dia chato do caralho, e ter seu sorriso fazendo qualquer dia ser o mais foda possível.

Quero me perder com você, numa terra desconhecida, com gente estranha, que dá sem se preocupar em receber. Que se doa em sua melhor condição e ainda perguntam se o outro quer mais.

Quero presenciar sua raiva mais sincera, e ter a chance de dizer não pra sua boa vontade mais politicamente correta. Quero você inteiro, até aquele pedaço guardado dentro da gaveta, aquele que ninguém aguenta, eu quero! E quero apertar muito esse pedaço, encher de carinho e dizer: calma, calma! Estou aqui.

Se for difícil pra aceitar, ajuda abandonando algumas cargas, pesos que restaram de alguma desilusão. Traz só você intenso! Pra penetrar minha rotina, tremer e bagunçar minha vida, me forçando a suar pra reorganizar tudo. Tudo só pelo tesão de te ter em cima dos meus planos.

Quero a gente descombinando, contrastando, e nisso aprendendo. Dividir uma cama bagunçada, em qualquer quartinho simples. Arrancar um do outro dilemas e desilusões que a vida possa ter plantado. Dividir a comida, se alimentar de pequenas satisfações e delírios... Nos nutrindo dessa falta de razão que é manter dois independentes juntos.

Não quero namoro, não quero casamento, não quero casa própria, muito menos sonho em ter filhos. Não quero uma relação pautada por convenções sociais, não quero servir de molde ou padrão. Acho importante você saber dessas coisas. No mais, que você me conheça, na mesma proporção que eu te conhecer. Mas não quero você exposto. Não quero você preso me dando tudo de si, nem quero ser tudo pra você. Não, por favor! Não interprete mal meu convite. Quero você real. Misterioso. Verdadeiro. Sincero. Não quero suas reservas ou tesouros. Quero o que você quiser dar, mas não enlouqueça de vez querendo me dar o mundo. Acorda! O mundo nem seu é... E eu preciso de tão pouco! Sabe a sua companhia inteira? Você presente em corpo, alma, olhos, voz, pensamentos, seu cheiro na minha roupa... Quero! Deixa, deixa o mundo pra lá.

Custa muito chamar algo de meu, mais ainda em possuir o que se pode chamar de nosso. Não é isso que eu estou querendo. Que fique esclarecido! Eu nem ousaria querer você pra mim, te declarar como posse. Repito: eu quero você junto comigo, do meu lado, pra quem sabe sentir e dividir o que possa representar o amor.

Amor é uma coisa que acredito que em sua melhor formação se faz sem regras ou limitações. Esse trem desprovido de planos ou certezas, nos coloca mil e uma questões, e no final nos acalma profundamente sem dar uma resposta. Amor acredito que seja mais ou menos esse negócio que faz tão bem, mas que no início dá um medo... Medo de quê? Me pergunto. Não é como dizem, medo de ser feliz. É como uma antecipação do mal que pode suceder a aceitação desse convite que parece tão tolo. Medo porque a vontade é grande. Dá receio de não conseguir. E o mais insensato está aí: a gente sabe que são poucas as chances disso dar certo. Mas o que é dar certo?

Eu te dou um beijo e você corresponde. Dei certo? Eu te dou um abraço e você abraça de volta. Deu certo? Eu te dedico carinho, respeito e tempo, e você me devolve o mesmo. Deu certo? Então venha dar comigo.

Te convido.

Mas venha em paz, não em guerra. Não venha achando que tem razão nisso, que vai se manter do mesmo jeito. É um convite crítico, que pode transformar tudo. Por isso não dá pra você vir cheio de si. Vem tranquilo e com vontade.

Eu não posso te garantir felicidade. Essa plenitude abstrata de alegria me parece surreal, mas acredito que se refira ao que não deve ficar a mercê de ninguém além de nós mesmos para ser alcançada. Se eu puder escolher, quero ser parte do que te faz bem. Eu não posso prometer que nós estando juntos seremos felizes, por mais que eu aposte nisso, sei que não depende só de mim o que pode acontecer. Mas olha! Eu quero, e se houver sintonia, só vêm! Podemos conquistar tantas coisas e juntos, com reciprocidade de vontades e interesses, nos motivar a ambos conquistarmos muito mais! Compartilhar o bem de cada conquista ou quebrar o mal de alguma eventual perda. Não te chamo pra ficar, porque nem é minha intenção me manter no mesmo lugar. Te chamo pra ir.

Assinado: Jéssica Flávia Oliveira.
/Fotos de Autores Desconhecidos



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