Como água

Como água que corre pra onde tem espaço, corri pro lado errado. Pois pra onde eu quis escoar, não deixaram. Como água, negaram minha essência, que é a transparência. Negaram meus sentimentos, negaram a mim.

Eu que te molhava de alegrias, te banhava em prazer, te limpava, fazia bem. Eu que morava no céu, quando me negaram, como chuva caí. Caí no chão, caí pro chão. Eu que desci pura, fiquei suja. Ladeira abaixo, me perdi na rua.

Me sujei, me purifiquei.

Quando a chuva te encontrar de surpresa, acredite, é como eu queria que nossos caminhos se cruzassem outra vez. E nesse reencontro, que sua reação seja boa, mas pode ser ruim, pode ser que te encontre em outra, e a chuva estragar seus planos de sol. Então não sei se quero chover...

Quando a chuva cair no seu telhado, acalmar sua noite, é o que eu queria fazer. Quando a chuva chegar e molhar o quintal, saia lá fora, refresque-se em mim. Deixa eu descer em seu corpo todo. Como paz quero chegar, mas com tamanha intensidade que se confunda a tormento. Mas é chuva, às vezes em forma de tempestade, mas depois dela, flores, frutos.

Quando ver o mar, lembre de mim. É todo meu sentimento preso nessa maré, nessa baía, nessa gravidade. Quando ver o mar, pense em mim, sou essa fúria que quer ser alento. Essa imensidão que quer caber no seu abraço. Esse mistério que te convida numa onda, com a proposta de te afogar em sentimentos e experiências boas.

Quando ver o rio, converse comigo. Esse barulho de água correndo sem parar são todas nossas conversas juntas, as que foram e as que seriam.

Quando descer água quente do chuveiro, se lembre de quando fui parte dos seus dias. Quando fazíamos planos, ou quando nos fazíamos sem planos, em panos, amarrotados, mas juntos, em manhãs de domingo.

Sei que parte de tudo que envolve água, é ruim. Nessa parte então, me esqueça... Não pense nos meus exageros e imprudências, na correnteza que assolou várias certezas, abalando tudo que era suscetível a risos, euforias, contentamentos. Esses desastres não compreendem o bem que quis, o bem que fiz, e ainda quero fazer. Aquela água que você bebeu ninguém mais toma.

Se fiz mal, como água, me enxugue, me absorva da forma que escolher. Mas se for lembrar, que seja saudade, sem precisar ser de novo. Não quero ser retorno. Pudera eu ser renovo.

Me nego na minha vontade: sua sede de mim.
E você não quis mais me beber.
Como água, de secura morri.


Assinado: Jéssica Flávia Oliveira.
/Fotos de Autores Desconhecidos
(aquele tipo de texto que meu gosto por ele oscila)


1 comments:

 

Blog Archive

Visits