Feita de pedaços

Um aperto no coração veio me avisar: chegou a solidão. E eu me pergunto: devo me acostumar a isso? Devo me acostumar com essa falta de companhia, sem alguém pra compartilhar meu coração?

O dia amanheceu pálido, indefinível, calmo, quebrado, perdido em meio a tanta luz. E eu... Eu acordei junto com esse dia. Eu acordei com ele e com quem sou. Acordei cheia de mim e ao mesmo tempo vazia de sentido. Então exclamo: isso já aconteceu tantas outras vezes, mas eu ainda não sei reagir a isso!

Meus sonhos me conduziram a essa solidão. Por serem feitos de mim, baseados em fatos preenchidos de contradição, ocupados da minha vivência que dá movimento as minhas emoções e orientam minhas expectativas. Meus sonhos agora sinônimo de incredulidade. Eles resultaram nessa falta de fé, nesse excesso de questões, nessa abundância de realidade e desesperança... Eu que achava simplicidade neles agora vejo inalcançáveis realizações.

Eu não encontrava (e ainda não encontro) satisfação em quimeras, em fantasias. Arquitetava meu futuro em vontades, não muito cheias de ilusões. Rodear o que sinto e cultivar o que tenho a mim era e é o mesmo que sonhar. Meus objetivos é que estão além do que vejo, mas eles não se estruturam em pessoas, e nem em situações intangíveis, são nada mais que bonitos objetivos em firmes traços.

Cada vez que me redescubro nessas minhas verdades só tenho mais convicção de que estou no caminho certo. Pois satisfazer-me de imaginações, contentar-me com divisões, aceitar probabilidades, me enfeitar com uma cobertura fina, hipócrita e linda... Não! Não, obrigada!

Se a verdade incomoda, é ela que desejo.
Se a mentira sorri para mim, prefiro então alguma lágrima verdadeira.
Se palavras me seduzem, se forem apenas teorias, prefiro o silêncio.
Se a solidão é o que tenho, é nela que serei, não me abandonarei.
Se alguém quiser me acompanhar e estiver longe do que me toca, deixa-me só.
Se a falta de alguém comigo é justificável pela incompletude das pessoas que me aparecem, é então uma falta digna, pois não espero metades.
Se sorrisos insistem em demonstrar o que não acontecerá, porque tenho de me alegrar com eles?
Se esses braços que querem me abraçar vierem cultivando abismos, só porque possuo necessidades não significa que vou aceitá-los. Ou que devo aceitá-los.

Eu me pergunto se alguém quer mais do que eu. Parece-me que não. Parecer, aparecer, aparências, ver a capa e não a essência. Na verdade, tudo que eu quiser que pareça, eu faço parecer. Porque as aparências são julgamentos meus, conceituar apenas pelo que pode ser visto, e julgar. E ninguém consegue não fazer isso. Todos se baseiam de alguma forma no que as aparências nos contam. E elas são definidas pelas percepções próprias de cada um. E se alguém descobriu que quer mais do que essa superfície a que todos se limitam, então queira-me!

O que melhor capto hoje é essa minha persistente solidão. E sem que entendam, eu me oriento nela, ainda que não tenha me acostumado a ela e nem a aceite - nem devo aceitar! Mas se ninguém um dia quiser por um indeterminado tempo em mim morar, deixe-me em paz! Não me faça visitas buscando minhas migalhas enquanto eu espero na verdade quem me busque inteira.

Talvez meu grande mal seja amar a fuga, me apaixonar facilmente pelos desafios, não querer o pronto por apenas desejos belos... Esqueço-me sem restrições qualquer egoísmo por uma simples porta misteriosa que me apresente do outro lado diversas variáveis precisando encontrar algum caminho. E eu? E eu não tenho uma caminhada pronta para que consiga apresentar os passos certos que alguém deve pisar. Mas eu tenho alvos precisos, e encontro segurança em todos eles. Não estou falando de ideais, utopias, sonhos... Estou falando de alvos maiores que pequenas idealizações e vontades. Estou falando de algo maior que qualquer sentimento que hoje sinto... Só nisso encontro paz. Para continuar acreditando não em um amanhã melhor. Mas na superação de qualquer dificuldade que o amanhã possa me apresentar.

Por mais pessimistas que você possa julgar todas essas palavras, lembre-se: você não sabe mais do que o que está exposto, logo não as chamem de palavras pessimistas. Apenas pense sobre elas, se possível. Se não possível, então nem inicie mais alguma leitura. Pois de nada adianta ler e não pensar sobre o que se lê. A leitura não liberta, a vontade de entender o que está escrito sim.

Assinado: Jotaefe Oliveira.
/Foto de Jesica Almaguer


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