Falta sentido

Algumas peças não se encaixam. Anoiteceu ou isso tudo são sombras? Não sei que horas o relógio está marcando. O que fizeram com minha noção de tempo? O espaço diminui, não consigo me movimentar. Falta coerência, coesão, interpretação - expliquem-se!

Na minha constante busca por sorrisos, fechei os olhos como se o que eu mais buscasse eu temesse. Na minha busca por abraços, me afastei. Como se mais quisesse ser encontrada do que encontrar. Não estou no melhor de mim. Estou perdendo antes mesmo de perder, assumindo possibilidades como se fossem fatos, antes mesmo de acontecerem. Estou declarando fragilidades, cultivando minhas fraquezas como se eu não tivesse alguma virtude, como se eu fosse completamente descartável, basicamente tolerável.

Na ansiedade de me fazer dar certo, vou rejeitando todos os riscos. Como se a vida fosse feita de certezas, como se pudéssemos prever os resultados, como se nada mais pudesse ser aprendido no desconhecido, como se ter duvidas fosse o maior dos problemas.

De tanto sonhar, não sei. Parece que não quero mais, não espero mais. Sonhando, cansei de acreditar! Como se o travesseiro que sempre descansei minha cabeça tivesse deixado de ser macio, precisasse ser trocado, como se o descanso tivesse sido tirado, tomado, roubado. E agora uma pedra ocupa seu lugar. Como se cada sonho me sobrecarregasse, cortasse minhas asas ao invés de me permitir levitar. Pode ser que eu tenha sonhado errado. Mas eu não imaginei que tivessem regras para sonhar.

Busco as coisas confortáveis, seguras. Como se eu não amasse os desafios, como se o difícil não me cativasse mais. Como se eu não precisasse de algo me incomodando para ver se assim vou me renovando ao invés de sempre permanecer no mesmo sofá, no conforto que estraga qualquer forma de evolução. Como se não tivesse um longo caminho antes da chegada, como se o melhor viesse pronto, fosse ganhado... Como se o amor fosse um sentimento fácil.

Eu descarto os sacrifícios como se fosse injusto fazê-los por amor. Mas se não é o amor que dignifica as diversas formas de sacrifício o que será então?

Não há sentido em mim.

Demoro tanto tempo limpando a casa, tirando todo entulho que me estraga, que me aborrece, que me magoa, para no final das contas deixar apenas a poeira morar nela. Eu recuso as promessas quando o que eu mais queria era que alguém me provasse que isso é bom, que cumpri-las é possível.

Eu me apaixono e isso me faz tão bem! Eu me perco e nisso aprendo tanto. Mas há uma guerra todos os dias, minha luta comigo. Vou sufocando o que me satisfaz como se eu não fosse importante pra mim, como se minha pior inimiga fosse eu... E pode ser que eu seja. Não faz sentido!

Tenho um quebra-cabeça sem a caixa, sem a referência, tudo uma bagunça! Mas se essa desordem for à melhor das organizações? Se minhas formas, minhas maneiras, meu jeito, se nada disso for isso? Se minhas perguntas forem às grandes respostas e meus dilemas forem meus maiores presentes? Se o segredo não estiver em querer demais, em sonhar, mas em aprender a querer, aprender a ter, aprender a esperar... Sem se cobrar o que não se cobra, sem se culpar pelo que não se culpa? Se o segredo estiver no claro, no transparente?

O amor se aprende.
Vou descobrindo, construindo, reconstruindo, multiplicando e quanto mais amo
Tudo alcança sentido.

Assinado: Jotaefe Oliveira.
/Foto de Lee Jeffries



2 comments:

  1. Profundo e repleto de beleza. Parabéns ficou lindo por demais!

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  2. Jessica,

    Talvez seja um privilégio esmiuçar questões íntimas, buscar caminhos, desprezar atalhos e facilidades, empenhar-se nas próprias certezas, valorizar a luz que ilumina os espaços de sombra, que quebra as dúvidas em pedacinhos, e reconstrói com as peças certas, cada uma no seu devido lugar. Não ponderar tais questões seria um pouco deixá-las soltas, embaralhadas, perdidas aqui e ali... inacabadas. Daí, há um sentido sim, em tudo, até no conflito, que não pára em si mesmo, mas que vai à luta, em busca de respostas e soluções e só se aquieta quando se constrange, se entrega à quieta dependência de Deus.. E como você diz, o amor mostra o rumo, apruma o sentido, costura as peças desconectadas e as encaixa num mosaico perfeito. Que bom que você entende isso, a importância do amor! Abraços, Rose

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