Não mais

Algumas palavras eu jamais repetirei. Algumas pessoas eu não abraçarei com a mesma intensidade que já abracei. Algumas verdades se tornaram em mentiras. Algumas distâncias se eternizaram. Alguns caminhos se interditaram com os entulhos das mudanças. Alguns sorrisos jamais produzirei em alguns lábios. Algumas relações se esfarelaram. Alguns amores se extinguiram... Algumas chamas se apagaram. Algumas amizades se falsificaram... Alguns punhais foram enfincados. Alguns sentimentos foram abandonados, deixaram de ser cultivados. Presentes se transformando em passado... Uma espessa camada de poeira se assentando sobre cada móvel escanteado. A vida acontecendo, decisões definindo prioridades e salientando a realidade.

Afirmei a durabilidade de algumas amizades que se findaram. Disse ter amado quem nem mais reconheço. Algumas lembranças se revividas trazem lágrimas e perguntas difíceis de serem respondidas...

A vida é feita de apegos e desapegos. De inícios, términos e recomeços. De presenças, ausências, saudades. A vida são escolhas diferentes por motivos iguais. Ou pode ser escolhas iguais por direções diferentes. A vida é ajuntar e separar. É acusar e perdoar. É crer e desacreditar. A vida é a vergonha e a honra. A vida de cada um encontra a definição que por cada um for vivida.

Algumas coisas eu fiz e sei que jamais voltarei a fazê-las. E não estou me referindo a erros e a arrependimentos. Mas aprendi que algumas vezes somos obrigados a abandonar nossas casas e ir nos refazer em outro lugar. Às vezes somos expulsos de nossas próprias afirmações, esganados por nossas próprias sinceridades, por nossos próprios sentimentos...

Eu devia ter um pouco mais de cuidado e me importar mais com os que permanecem, me cultivam e me enobrecem... Mas há verdades que não consigo enterrar. Fica um pouco de mim em cada abandono, fica um pouco de mim lá. Em cada frustração, perco sonhos, peco a voz, perco lágrimas, perco alegrias... Perco motivos pelos quais lutava. São situações, é a falta de opções, são dores, são mágoas, são forças maiores que me impulsionam a caminhar sem olhar para trás, me impulsionam a deixar pra trás...

Eu vivi relações que jamais reviverei e não me fazem falta. Porque eu também já não falto do lado de lá. E me entregar à tristeza de sentir falta dos que não me querem mais, é querer me afogar, me enfraquecer...

Olho pro passado e tenho paz. Já chorei ao lembrar de algumas amizades que me renunciaram... Mas se elas não me valorizaram, eu pelo menos hei de me valorizar.

Assinado: Jotaefe Oliveira.
/Foto de Helena Brodetscaya


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