Casual

Esse tesão que não seca minha sede, não entendo a serventia. Se deixar levar por essas bebidas de frascos bonitos conquistarem a chance de servir minhas vontades. Vontades que não acabam. Acho que perdi a moral dessa história, desse vício de beber por beber, beber pra experimentar, beber pra aproveitar, beber pra não deixar passar, beber pra assegurar, beber porque estamos aqui... Beber porque isso, porque aquilo. Costume.

Costume do vago, da lacuna, ver o fundo do copo vazio e já pensar em preenchê-lo. O que temos? Serve alguma experiência rápida, pronta e formatada? Mudam-se os copos, mas as bebidas são as mesmas. Mudam-se os lugares, mas os roteiros não se alteram. Passam-se os dias e os espaços continuam vazios. O ciclo continua. Vamos de novo. E novamente. Bebe esse sexo. Engole essa foda. Vira essa rapidinha. Se contenta com essa noite. Somos até nos servirem outro, e outro, de novo, até outro dia. Quantas bocas, quantos corpos, gostos, cheiros...

Esse tesão desperdiçado, que só multiplica. Se deixar levar pela tentativa de findá-lo com paliativos. Prazeres intensos, mas passageiros. Não entendi a moral, mas ri, mesmo não encontrando a graça. Eu ri porque estava ali. E se alguém se importasse em notar além de todos aqueles copos, perceberia que o riso não estava cheio, jamais transbordaria.

Bebi a casualidade. E talvez seja ela a moral que não compreendi. O casual vicia. É cômodo, é conveniente, é delirante, fantasia... Sabe-se onde começa e como termina.

Meu tesão não cabe nessa casualidade. Eu quero noites seguidas. Quero manhãs absurdas, de saudações regadas a café e gemidos na cama. Quero dias, além das noites. Quero beijos sem música alta de fundo. Quero trocar olhares sem público. Quero a mão boba que tenta atiçar meus sentimentos. A voz suave ao pé do meu ouvido que arrepia e me faça perder o desejo de voltar pra casa sozinha. Eu quero tardes na varanda, dividir uma rede de vontades e descosturar cada impedimento. Quero quem tira minha roupa e deixa minha alma nua. Quem seja capaz de me apreciar inteira, e contemple cada curva dessa relação. Aceitando o medo e a duvida como indício de algo novo, que pouco se sabe, mas ainda assim diz sim pra cada possibilidade de ser incrível. Meu tesão quer alguém capaz de engolir cada gota diária de gozo que toda cumplicidade de interesses produzir.

Não quero vários - meu tesão não cabe nesses tantos. Meu tesão quer mais que casualidade, quer frequência, sintonia, ostensividade. Quero a culpa e a consequência. Dividir a entrega, e ainda mais as duvidas, o risco, as experiências. Quero intenção, interesse. Eu quero um, que permaneça.


Assinado: Jéssica Flávia Oliveira.
/Fotos de Autores Desconhecidos

   

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